As cantigas do enganador
António Saleiro | |
Não tivesse havido um Marquês de Beccária (1) e se ainda fosse possível a "vindicta" privada, o arraial de tanganhada era um vê se te avias.
Peço desculpa pelos termos que utilizei na última frase, mas foram os que me pareceram mais adequados para, se possível, aplicar aos que praticam os desmandos que nos empobrecem todos os dias.
Ora, não sendo estes métodos possíveis, por não aplicáveis nos dias de hoje, outros há que podem e devem ser aplicados.
Sobre a questão de que vos quero falar, além de tantas outras de enganadores, fingidores e de engenheiros de tranquibérnias, vou debruçar-me apenas sobre a questão dos combustíveis.
É que não percebo nem entendo que, havendo a previsão legal que proíbe a especulação, nada se faça para evitar a promoção de enriquecimento com base naquela ilicitude a olhos vistos.
Em 2008, assistimos a uma escalada dos preços do petróleo que rondou os 150 dólares por barril e, por consequência, o ENGANADOR, pelas suas continhas, lá foi aumentando os combustíveis nos postos de abastecimento, ao ponto de arrecadar por cada litro mais ou menos um euro e vinte (ou pouco mais.)
A rapaziada lá se ia conformando e, de alguma forma, lá percebia os argumentos da Associação das Petrolíferas (Apetro), que referia sempre o aumento do crude para justificar tais aumentos.
Como mais cedo ou mais tarde não se apanha só o coxo mas também o "outro" assistimos ao maior despautério até agora proferido pela Apetro, ao referir que os preços praticados nos postos de combustíveis em que a gasolina já custa mais de 1,60€, não tem nada a ver com o preço do petróleo (agora custa cerca de 100 dólares) imputando agora a razão ao transporte, refinação, distribuição e impostos, valorizando agora estes elementos como se de novos se tratassem e ignorando os anteriores argumentos do aumento do produto na origem porque, claro está, agora não interessa.
É que, além do petróleo na origem estar mais baixo 50 dólares, repito 50 dólares, há que ter em atenção o diferencial cambial do euro para o dólar que, em comparação com a mesma altura, é bastante significativo.
A verdade é que o petróleo está mais barato cerca de 50 dólares por barril e a gasolina está mais cara 40 cêntimos por litro. O euro compra hoje mais barris do que comprava e não há quem nos defenda do ENGANADOR.
Pelos vistos não temos quem nos acuda. A Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis - Anarec, que deveria defender os consumidores porque são os seus clientes, tem o discurso do ENGANADOR em vez de ter o discurso dos revendedores, ou seja, diz o que as petrolíferas querem. A Deco teve algumas iniciativas brandas e quem nos governa, que deveria acudir por nós, diz que nada pode fazer e aponta para os mercados (a bela Europa a funcionar).
Pensava eu que o poder de decidir sobre os nossos destinos pertencia aos delegados do povo. Afinal o povo soberano está a tornar-se em súbdito dos mercados agora detentores de "Imperium" que lhes adveio não se sabe de onde … Adveio-lhe por via do mau uso do mandato daqueles em que os povos acreditavam que poderiam ser seus bons mandatários. Dito de outra forma, é o poder político a vergar perante o poder económico.
Por este andar, só falta legitimar os detentores do poder económico e daí que o melhor a fazer será começar a votar nos presidentes das empresas e da banca e colocar os eleitos, os governantes e deputados, a calcorrear o País junto do povo como testemunhas de Jeová para nos convencerem que os ENGANADORES nos querem dar a Salvação e por isso nos cobram o que nos cobram como se da dízima se tratasse.
Limitei-me a referir apenas um dos muitos sectores da actividade que brincam a seu belo prazer ao ponto de, em pleno período eleitoral para a eleição do Garante e do Defensor das garantias dos cidadãos, se terem permitido fazer aumentos quase dia sim, dia sim…
O certo é que não se percebe o que é que as tutelas e os reguladores andam a fazer porque cada ENGANADOR faz o que bem lhe apetece… Bem vistas as coisas, resta-nos atribuir as culpas ao Marquês de Beccária porque se não fosse ele, ao promover o movimento humanitarista, esta gente estava bem aviada. Assim, com estas continhas dos ENGANADORES, quem anda bem aviado somos nós e continuamos a ir na cantiga.
(1) (Cesare Bonesana, Marquês de Beccária - Impulsionador da Escola Moderna do Direito Penal, que se opôs a todas as concepções retributivas e de expiação, contrariando o talião)
Jurista
Antigo presidente da Anarec
Ora, não sendo estes métodos possíveis, por não aplicáveis nos dias de hoje, outros há que podem e devem ser aplicados.
Sobre a questão de que vos quero falar, além de tantas outras de enganadores, fingidores e de engenheiros de tranquibérnias, vou debruçar-me apenas sobre a questão dos combustíveis.
É que não percebo nem entendo que, havendo a previsão legal que proíbe a especulação, nada se faça para evitar a promoção de enriquecimento com base naquela ilicitude a olhos vistos.
Em 2008, assistimos a uma escalada dos preços do petróleo que rondou os 150 dólares por barril e, por consequência, o ENGANADOR, pelas suas continhas, lá foi aumentando os combustíveis nos postos de abastecimento, ao ponto de arrecadar por cada litro mais ou menos um euro e vinte (ou pouco mais.)
A rapaziada lá se ia conformando e, de alguma forma, lá percebia os argumentos da Associação das Petrolíferas (Apetro), que referia sempre o aumento do crude para justificar tais aumentos.
Como mais cedo ou mais tarde não se apanha só o coxo mas também o "outro" assistimos ao maior despautério até agora proferido pela Apetro, ao referir que os preços praticados nos postos de combustíveis em que a gasolina já custa mais de 1,60€, não tem nada a ver com o preço do petróleo (agora custa cerca de 100 dólares) imputando agora a razão ao transporte, refinação, distribuição e impostos, valorizando agora estes elementos como se de novos se tratassem e ignorando os anteriores argumentos do aumento do produto na origem porque, claro está, agora não interessa.
É que, além do petróleo na origem estar mais baixo 50 dólares, repito 50 dólares, há que ter em atenção o diferencial cambial do euro para o dólar que, em comparação com a mesma altura, é bastante significativo.
A verdade é que o petróleo está mais barato cerca de 50 dólares por barril e a gasolina está mais cara 40 cêntimos por litro. O euro compra hoje mais barris do que comprava e não há quem nos defenda do ENGANADOR.
Pelos vistos não temos quem nos acuda. A Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis - Anarec, que deveria defender os consumidores porque são os seus clientes, tem o discurso do ENGANADOR em vez de ter o discurso dos revendedores, ou seja, diz o que as petrolíferas querem. A Deco teve algumas iniciativas brandas e quem nos governa, que deveria acudir por nós, diz que nada pode fazer e aponta para os mercados (a bela Europa a funcionar).
Pensava eu que o poder de decidir sobre os nossos destinos pertencia aos delegados do povo. Afinal o povo soberano está a tornar-se em súbdito dos mercados agora detentores de "Imperium" que lhes adveio não se sabe de onde … Adveio-lhe por via do mau uso do mandato daqueles em que os povos acreditavam que poderiam ser seus bons mandatários. Dito de outra forma, é o poder político a vergar perante o poder económico.
Por este andar, só falta legitimar os detentores do poder económico e daí que o melhor a fazer será começar a votar nos presidentes das empresas e da banca e colocar os eleitos, os governantes e deputados, a calcorrear o País junto do povo como testemunhas de Jeová para nos convencerem que os ENGANADORES nos querem dar a Salvação e por isso nos cobram o que nos cobram como se da dízima se tratasse.
Limitei-me a referir apenas um dos muitos sectores da actividade que brincam a seu belo prazer ao ponto de, em pleno período eleitoral para a eleição do Garante e do Defensor das garantias dos cidadãos, se terem permitido fazer aumentos quase dia sim, dia sim…
O certo é que não se percebe o que é que as tutelas e os reguladores andam a fazer porque cada ENGANADOR faz o que bem lhe apetece… Bem vistas as coisas, resta-nos atribuir as culpas ao Marquês de Beccária porque se não fosse ele, ao promover o movimento humanitarista, esta gente estava bem aviada. Assim, com estas continhas dos ENGANADORES, quem anda bem aviado somos nós e continuamos a ir na cantiga.
(1) (Cesare Bonesana, Marquês de Beccária - Impulsionador da Escola Moderna do Direito Penal, que se opôs a todas as concepções retributivas e de expiação, contrariando o talião)
Jurista
Antigo presidente da Anarec
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