domingo, 31 de julho de 2011

Ser do PSD é pura coincidência... ou será por o rapaz estar desempregado?

Reencaminho e vendo-a pelo mesmo preço q a comprei... António Nogueira Leite vai ser vice-presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos e ganhar mais de 20 mil euros por mês. O académico, que foi conselheiro de Pedro Passos Coelho (quem diria?), vai assumir funções executivas, ocupando o lugar de número dois do próximo presidente executivo do banco público. Actualmente já é:- administrador executivo da CUF, - administrador executivo da SEC,- administrador executivo da José de Mello Saúde,- administrador executivo da EFACEC Capital,- administrador executivo da Comitur Imobiliária, - administrador (não executivo) da Reditus, - administrador (não executivo) da  Brisa, - administrador (não executivo) da Quimigal- presidente do Conselho Geral da OPEX, - membro do Conselho Nacional da CMVM, - vice-presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment Bank, - membro do Conselho Consultivo da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, - vogal da Direcção do IPRI. É membro do Conselho Nacional do PSD desde 2010.Os amigos começam a ocupar os bons lugares e, mesmo quando dizem que querem poupar e reduzir nas despesas, quando aumentam impostos, quando aumentam os transportes, a saúde e anunciam qua ainda agora começaram os sacrifícios, não têm vergonha de aumentar o número de administradores da CGD de sete para onze. Há que haver lugares para todos e aos Barões não serve qualquer um. Têm de ser lugares de luxo e prestigio que são gente importante.

terça-feira, 26 de julho de 2011

UMA IDEIA A EXPLORAR?...

 O que eu proponho é muito melhor que a pena de morte
Acho que os presos deviam trabalhar 8 horas por dia com uma enxada, não com máquinas a limpar as florestas!

A maneira de os controlar?
Todos atados com uma corrente a uma perna!
Então? Não?
Nesse caso sou a favor da restauração da pena de morte.



Colocar os nossos idosos nas cadeias, e os delinquente fechados nas
casas dos velhos.

Desta maneira, os idosos teriam todos os dias acesso a um  lazer, passeios.
Não teriam necessidade de fazer comida, fazer compras, lavar a loiça,
arrumar a casa, lavar roupa etc.

Teriam medicamentos e assistência médica regular e gratuita.
Estariam permanentemente acompanhados.
Teriam refeições quentes, e a horas.
Não teriam que pagar renda pelo  alojamento.
Teriam direito a vigilância permanente por vídeo, pelo que receberiam
assistência imediata em caso de acidente ou emergência. E sem pagar um
tuste.

As suas camas seriam mudadas duas vezes por semana, e a roupa lavada e
passada com regularidade.

Um guarda visitá-los-ia a cada 20 minutos e levar-lhes-ia a
correspondência directamente em mão.

Teriam um local para receberem a família ou outras visitas.
Teriam acesso a uma biblioteca, sala de exercícios e terapia física espiritual.
Seriam encorajados a arranjar terapias ocupacionais adequadas, com
formador instalações e equipamento gratuitos.

 Ser-lhes-ia fornecido gratuitamente roupa e produtos de higiene pessoal.
 Teriam assistência jurídica gratuita.
 Viveriam numa habitação privada e segura, com um pátio para convívio
e exercícios.

Acesso a leitura, computador, televisão, rádio e chamadas telefónicas
na rede fixa.

Teriam um secretariado de apoio, e ainda Psicólogos, Assistentes
Sociais, Políticos, Televisões, Amnistia Internacional, etc.,
disponíveis para escutarem as suas queixas ( ?).

 O secretariado e os guardas seriam obrigados a respeitar um rigoroso
código de conduta, sob pena de serem duramente penalizados.

Ser-lhes-iam reconhecidos todos os direitos humanos internacionalmente
convencionados e subscritos por Portugal.

 Por outro lado, nas casas dos idosos:
Os delinquentes viveriam com 200 ( ?) numa pequena habitação com
obras feitas há mais de 50 anos.

Teriam que confeccionar a sua comida e comê-la muitas vezes fria e
fora de horas.

Teriam que tratar da sua roupa.
 Viveriam sós e sem vigilância.
 Esquecer-se-iam de comer e de tomar os medicamentos e não teriam
ninguém que os ajudasse.

 De vez em quando seriam vigarizados, assaltados ou até violados.
 Se morressem, poderiam ficar anos, até alguém os encontrar.
 As instituições e os políticos não lhes ligariam qualquer importância.
 Morreriam após anos à espera de uma consulta médica ou de uma
operação cirúrgica.

Não teriam ninguém a quem se queixar.
Tomariam um banho de 15 em 15 dias,sujeitando-se a não haver água
quente ou a caírem na banheira velha.

 Passariam frio no Inverno porque a pensão dos (200?) não chegaria
para o aquecimento.

 O entretenimento diário consistiria em ver telenovelas e o Goucha na televisão.
 Digam lá se desta forma não haveria mais justiça para todos, e os
contribuintes agradeceriam?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Cantas bem mas não me alegras!

Portugal poderia ser um paraíso se:
- quem trabalha tivesse os previlégios dos ladrões.
- quem trabalha não pagasse para sustento dos que não querem trabalhar, sim em Portugal só não trabalha quem não quer.
- se não fosse preferivel receber subsídio de desemprego em vez de trabalhar.
- se os idosos tivessem as mesmas condições que têm os presos nas cadeias.
-se os presos trabalhassem todos os dias com uma enxada nas mãos a limpar as florestas do Estado ou mesmo dos privados.
-se colocasssem em lares da terceira idade os presos e nas cadeias (com as regalias dos presos) os idosos.
- Se os direitos humanos fossem invodados para HOMENS de direito em vez de serem invocados para os vadios e vigaristas.
- se os policias pudessem prender os ladrões e estes ficassem presos nem que fosse com uma corrente. (ai Os direito do homem! ) e serem julgados em vez  dos policias.
- se...
-se...

Obama tem razão. Por uma vez – como escreve Manuel Ferrer: “Os EUA não são a Grécia nem Portugal, diz ele! Realmente.Nos EUA 1/5 dos negros estão na cadeia.Nos EUA 50% da população não tem assistência médica e 25% nem consegue tratar-se em qualquer hospitalNos EUA a dívida pública atingiu um valor impossível de ser pago em várias gerações e já ultrapassou as centenas de milhares de US$ por família.Nos EUA condenam-se a prisão perpétua crianças de 12 anos, por roubo de uma bicicleta.Nos EUA 6% da população sobrevive com uma refeição diária de comida enlatada ...para animais...A Escola Pública é completamente inútil e caminha para a extinção.Nos EUA há mais de 450 organizações policiais e o sistema judicial não é independente do poder executivo: É nomeado por ele!Nos EUA as duas maiores indústrias são o armamento e a pornografia.Nos EUA vende-se mais produtos para animais do que para bebés...Nos EUA 1% da população controla e recebe cerca de 90% do PIB nacionalNos EUA a produção de carne e de ovos utiliza legalmente promotores químicos de crescimento.Nos EUA não há ordenado mínimo e o trabalho indiferenciado é pago a 4 euros/hora... Os EUA estão envolvidos em dezenas de conflitos militares de carácter sujo e para levar a cabo golpes de estado favoráveis aos seus interesses e aos de Israel.Os EUA angariam em todo o mundo os melhores cérebros para a sua indústria de armamento e obrigam os seus "aliados" a comprá-las...Os EUA são o maior mercado mundial de drogas pesadas e um dos maiores produtores de anfetaminas e de outros químicos dopantes...Os EUA imprimem papel-moeda e através de tratados com as suas colónias árabes transformaram o US$ no meio de pagamento internacional em substituição do ouro...Obama tem toda a razão: Nada disto de passa em Portugal. Estamos muito atrasados e não sei se algum dia lá chegaremos...Só um detalhe: os EUA estão completamente falidos e mais de 10% da população já vive em acampamentos sem saneamento ou serviços públicos básicos...Nós não somos os EUA! Thanks God!”

Retirado do fórum do Jornal Económico - 29/06/2011

       http://economico.sapo.pt/noticias/atenas-sob-fogo_121686.html
       Lê-se, por vezes, que os Gregos, coitadinhos, são um pobre povo
periférico que está a sofrer as agruras de uma crise
internacional aumentada às mãos da pérfida Merkel.

       Já é tempo de sair desta superficialidade, de perceber que os Gregos
têm culpas no cartório, que não foram sérios e que
não o estão a ser.
       Os Gregos levaram a lógica dos "direitos adquiridos" até à demência,
até à falta de vergonha.
       Contam-se factos inauditos.
       Os exemplos desta falta de seriedade são imensos, a saber :

       1 - Em 1930, um lago na Grécia secou, mas o Estado Social grego
mantem o Instituto para a Protecção do Lago Kopais, que,
embora tenha secado em 1930, ainda tem, em 2011, dezenas de funcionários
dedicados à sua conservação.

       2 - Na Grécia, as filhas solteiras dos funcionários públicos têm
direito a uma pensão vitalícia, após a morte do
mãe/pai-funcionário público.
       Recebem 1000 euros mensais - para toda a vida - só pelo facto de
serem filhas de funcionários públicos falecidos.
       Há 40 mil mulheres neste registo que custam ao erário publico 550
milhoes de euros por ano.
       Depois de um ano de caos, o governo grego ainda não acabou com isto
completamente.
       O que pretende é dar este subsidio só até fazerem 18 anos …

       3 - Num hospital público, existe um jardim com quatro (4) arbustos.
       Ora, para cuidar desses arbustos o hospital contratou quarenta e
cinco (45) jardineiros.

       4 - Num acto de gestão muito “social” (para com o fornecedor), os
hospitais gregos compram pace-makers quatrocentas
vezes (400) mais caros do que aqueles que são adquiridos no SNS britânico.

       5 - Existem seiscentas (600) profissões que podem pedir a reforma
aos 50 anos (mulheres) e aos 55 (homens).
       Porquê ?
       Porque adquiriram estatuto de profissões de alto desgaste.
       Dentro deste rol, temos cabeleireiras, apresentadores de TV, músicos
de instrumentos de sopro …

       6 - Pagava-se 15º mês a toda a classe trabalhadora.
       7 - As Pensões de Reforma de 4.500 funcionários, no montante de 16
milhões euros por ano, continuavam a ser depositadas,
mesmo depois dos idosos falecerem, porque os familiares não davam baixa e
não devia haver meios de se averiguar a inexactidão
dessa atribuição.

       8 - Chegava-se ao ponto de só se pagarem os prémios de alguns
seguros quando fosse preciso usufruir deles !


       9 - A Grécia é o País da União Europeia que mais gasta, em termos
militares, em relação ao PIB (dados de 2009).
       O triplo de Portugal !

       10 - Há viaturas oficiais da administração do Estado que têm 50
condutores.
       Cada novo nomeado para um cargo nomeia três ou quatro condutores da
sua confiança, mas como não são permitidos
despedimentos na função pública os anteriores vão mantendo o salário.

       Anteontem, 27/06, o Prof.Marcelo, acrescentou mais uma à lista.
       Afirmou ele: “ Na Grécia, cerca de 90% da terra não tem cadastro.
       Agora digo eu: sabem o que significa isso ?
       Significa que os proprietários não pagam impostos.
       Eu já tinha ouvido dizer que os gregos não pagavam impostos.
       Ora, a grande receita do Estado provém dos impostos.
       Isto quer dizer que o erário publico do Estado grego esta vazio,
totalmente vazio.
       Quer dizer, os milhões da UE é que serviram, durante todos estes
anos, para manter o nível de vida atingido dos gregos.
       Não admira que já tenham estoirado 115 mil milhões e agora precisem
de mais 108 mil milhões.

terça-feira, 19 de julho de 2011

UM DIA, ISTO TINHA DE ACONTECER

Mia Couto
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
 Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
 Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquer coisa phones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

 Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um politico honesto

 

Seres decentes

 Fernando

Dacosta

Quando cumpria o seu segundo
mandato, Ramalho Eanes viu serlhe
apresentada pelo Governo uma
lei especialmente congeminada
contra si.
O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado

com quaisquer pensões de reforma
ou de sobrevivência» públicas que
viesse a receber.
Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-
se de auferir a aposentação de militar para a
qual descontara durante toda a carreira.
O desconforto de tamanha injustiça levou-o,
mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há
pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas
as importâncias não pagas durante catorze
anos, com retroactivos, num total de um milhão
e trezentos mil euros.
Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu,
porém, prescindir do benefício, que o não era
pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados
- e não aceitou o dinheiro.
Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à
corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância,
Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma
esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo,
no arranjismo que o imergem, nos imergem
por todos os lados.
As pessoas de bem logo o olharam empolgadas:
o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de
ânimo em altura de extrema pungência cívica, de
dolorosíssimo abandono social.
Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento
afim, quando se negou a subscrever
um pedido de pensão por mérito intelectual que
a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de
Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situ -
ação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não,
não peço. Se o Estado português entender que a
mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a.
Mas pedi-la, não. Nunca!»
O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria,
pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e
primeiras páginas de periódicos) explica-se pela
nossa recalcada má consciência que não suporta,
de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.
“A política tem de ser feita respeitando uma
moral, a moral da responsabilidade e, se possível,
a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável
“preservar alguns dos valores de outrora, das
utopias de outrora”.
Quem o conhece não se surpreende com a sua
decisão, pois as questões da honra, da integridade,
foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário
e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta
- acrescentando os outros.
“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará,
“fora dela. Reagi como tímido, liderando”.
O acto do antigo Presidente («cujo carácter e
probidade sobrelevam a calamidade moral que
por aí se tornou comum», como escreveu numa
das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos)
ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida,
pervertida ética.
Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o
bastão de Marechal) preservou um nível de di -
gnidade decisivo para continuarmos a respeitar-
-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível
ao futuro dos que persistem em ser decentes.