sexta-feira, 13 de maio de 2011

PARECE INCRÍVEL MAS NÃO É !

> Caro Dr. Jorge Coelho, como sabe, V. Exa. enviou-me uma carta, com
> conhecimento para a direcção deste jornal. Aqui fica a minha resposta.
>
> Em 'O Governo e a Mota-Engil' (crónica do sítio do Expresso), eu apontei
> para um facto que estava no Orçamento do Estado (OE): a Ascendi, empresa da
> Mota-Engil, iria receber 587 milhões de euros. Olhando para este
> pornográfico número, e seguindo o economista Álvaro Santos Pereira,
> constatei o óbvio: no mínimo, esta transferência de 587 milhões seria
> escandalosa (este valor representa mais de metade da receita que resultará
> do aumento do IVA). Eu escrevi este texto às nove da manhã. À tarde, quando
> o meu texto já circulava pela internet, a Ascendi apontou para um "lapso" do
> OE: afinal, a empresa só tem direito a 150 milhões, e não a 587 milhões.
> Durante a tarde, o sítio do Expresso fez uma notícia sobre esse lapso, à
> qual foi anexada o meu texto. À noite, a SIC falou sobre o assunto. Ora,
> perante isto, V. Exa. fez uma carta a pedir que eu me retractasse. Mas, meu
> caro amigo, o lapso não é meu. O lapso é de Teixeira dos Santos e de
> Sócrates. A sua carta parece que parte do pressuposto de que os 587 milhões
> saíram da minha pérfida imaginação. Meu caro, quando eu escrevi o texto, o
> 'lapso' era um 'facto' consagrado no OE. V. Exa. quer explicações? Peça-as
> ao ministro das Finanças. Mas não deixo de registar o seguinte: V. Exa. quer
> que um Zé Ninguém peça desculpas por um erro cometido pelos dois homens mais
> poderosos do país. Isto até parece brincadeirinha.
>
> Depois, V. Exa. não gostou de ler este meu desejo utópico: "quando é que
> Jorge Coelho e a Mota-Engil desaparecem do centro da nossa vida política?".
> A isto, V. Exa. respondeu com um excelso "servi a Causa Pública durante mais
> de 20 anos". Bravo. Mas eu também sirvo a causa pública. Além de registar os
> "lapsos" de 500 milhões, o meu serviço à causa pública passa por dizer
> aquilo que penso e sinto. E, neste momento, estou farto das PPP de betão,
> estou farto das estradas que ninguém usa, e estou farto das construtoras que
> fizeram esse mar de betão e alcatrão. No fundo, eu estou farto do actual
> modelo económico assente numa espécie de new deal entre políticos e as
> construtoras. Porque este modelo fez muito mal a Portugal, meu caro Jorge
> Coelho. O modelo económico que enriqueceu a sua empresa é o modelo económico
> que empobreceu Portugal. Não, não comece a abanar a cabeça, porque eu não
> estou a falar em teorias da conspiração. Não estou a dizer que Sócrates
> governou com o objectivo de enriquecer as construtoras. Nunca lhe faria esse
> favor, meu caro. Estou apenas a dizer que esse modelo foi uma escolha
> política desastrosa para o país. A culpa não é sua, mas sim dos partidos,
> sobretudo do PS. Mas, se não se importa, eu tenho o direito a estar farto de
> ver os construtores no centro da vida colectiva do meu país. Foi este
> excesso de construção que arruinou Portugal, foi este excesso de
> investimento em bens não-transaccionáveis que destruiu o meu futuro próximo.
> No dia em que V. Exa. inventar a obra pública exportável, venho aqui
> retractar-me com uma simples frase: "eu estava errado, o dr. Jorge Coelho é
> um visionário e as construtoras civis devem ser o Alfa e o Ómega da nossa
> economia". Até lá, se não se importa, tenho direito a estar farto deste new
> deal entre políticos e construtores.
>

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