segunda-feira, 4 de abril de 2011

TODOS FALAM DE BARRIGA (MUITO) CHEIA!

Geração à rasca foi a minha
Geração à rasca foi a minha. Foi uma Geração que viveu num país vazio de
gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser
diferente, pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à
segurança social.


Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos
direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de
crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.

Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio
proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto,
casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras
porque sim, pais biológicos, etc.

 A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o
chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país
ou de ler-lhe a correspondência.

Os televisores LED, ou a 3 dimensões eram uns caixotes a preto e branco onde
se colocava à frente do ecrã um filtro colorido, mas apenas se conseguia
transformar os locutores em ET’s desfocados.

Na rádio ouviam-se apenas 3 estações – a oficial Emissora Nacional, a
católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos
então os Gato Fedorento, mas dava-nos imenso gozo ouvir Os Parodiantes de
Lisboa, ou a Voz dos Ridículos.

As Raves da época eram as festas de garagem, onde de ouvia música de vinil e
se fumava liamba das colónias. Nada de Bares ou Danceterias. As Docas eram
para estivadores, e O Jamaica do Cais do Sodré para marujos.


A “Night” era para os boémios. Éramos a geração das tascas, das casas de
fado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam
discos, como a Valentim de Carvalho ou a Vadeca.

As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que a nossa juventude
enviava lá da guerra aos pais, noivas, namoradas ou madrinhas de guerra.
Agora vivem na Internet, ora alimentando números de socialização no
Facebook, ora cultivando batatas no Farmville. Os SMS e E-Mails cheios de k
e vazios de assentos eram as nossas cartas e postais ou papelinhos
contrabandeados nas aulas.

As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas por via marítima. Quem não
se lembra do Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrosos
navios que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza - a viagem de ida,
quer fosse para Angola, Moçambique ou Guiné.

Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam
doentes. Coca-Cola e Pepsi? Eram proibidas. Bebia-se laranjada, gasosa ou
pirolito.

Na minha geração, dos jovens só se esperava que fossem para a tropa ou
emigrassem.

Na minha Geração o país, tal como as fotografias, era a preto e branco.

José-Augusto Tavares


PS- Faziam-se viagens de Lisboa ao Porto e mesmo até ao Algarve, à boleia, mas era na estrada ao Sol ou à chuva, a levantar o dedo e fazer o sinal. Depois inventaram-se pequenas tabuletas de cartão com o nome da localidade para onde iamos e mostravam-se aos automobilistas e camionistas.  Viajava-se com relativa facilidade  à boleia!

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