quinta-feira, 1 de março de 2012

Os pais são os culpados? Outro que descobriu a pólvora!

 





O principal culpado
pelo desastre da educação em Portugal é: você. Sim, refiro-me ao encarregado de educação, que passa
a vida culpando os outros em vez de aceitar que
o fracasso do processo começa em casa
O valor de uma econo- mia é o valor do seu capital humano. Por isso o sistema educati- vo é tão importante. Por isso o estado lastimoso da econo- mia portuguesa tem muito que ver como o estado lasti- moso da educação.
Não faltam 'culpados' para este desastre: uns dizem que o problema é o 'eduquês', ou- tros que são os professores, ou o sindicado dos professo- res, ou o Ministério, ou o cli- ma, ou a água da torneira, ou sei lá o quê.
Não nego que sejam causas importantes, mas o principal culpado pelo desastre da edu- cação em Portugal é: você. Sim, refiro-me a você, encarre- gado de educação, que passa a vida culpando os outros em vez de aceitar que o fracasso do processo educativo come- sa em casa, Os principais res- ponsáveis pela educação não são os professores mas sim os
Estamos assim mais
do que 25 anos atrasados, pelo que temos
de começar quanto antes, filho a filho
próprios pais. É claro que são os professores que dão as au- las, que sabem ensinar Portu- guês e Matemática, História e Geografia. Mas todo este es- forço vale pouco ou nada se não começa num ambiente fa- miliar que dá valor ao esforço e à disciplina que uma boa educação exige.
A única desculpa que vejo pa- ra os nossos encarregados de educação é que estamos pe- rante uma questão 'cultural'. A mentalidade do 'desenras- que' e do 'chico esperto' tam- bém se manifesta na escola: um gaba-se do seu 'novo' mé- todo de ‘copíanço’ como se se tratasse de uma conquista amorosa; outro orgulha-se
por ter passado a cadeira "sem estudar praticamente nada"; e o aluno mais cool é o que se lembra de mais 'parti- das' durante as aulas.
Mas o pior não é tanto a ati- tude dos adolescentes como a reação dos adultos: o sorriso que traduz uma certa nostal- gia ("ah, se soubesses o que eu fazia quando tinha a tua idade"); o piscar de olho que manifesta aprovação ("assim é que é!"); ou simplesmente a indiferença.
O melting pot que são os Es- tados Unidos serve como tes- te da minha teoria, que pode não ser 'politicamente correc- ta' mas é simplesmente correc- ta: as etnias com melhor pres- tação escolar (os judeus, os co- reanos, os vietnamitas, etc.) são as que têm culturas fami- liares que valorizam a educa- ção. Talvez os genes contem alguma coisa, mas neste caso o ambiente claramente se so- brepõe aos cromossomas: nur- ture vence nature.
Expresso de 28/01/2012
Não é o ministro da Educa- ção nem o Ministério da Edu- cação que resolverá o proble- ma; nem as reformas curricu- lares dos teóricos da educa- ção; nem os professores nem o sindicato dos professores; nem as escolas públicas nem as escolas privadas. A melho- ria da educação em Portugal começa e continua com você, encarregado de educação. Co- mo? Evitando a mentalidade outsourcing da educação ("a escola que trate disso, é para isso que pago impostos e pro- pinas"); exigindo esforço do filho (embora seja muito mais fácil ser o 'pai popular' do que o 'pai exigente'); e exigindo re- sultados da escola (neste senti- do a maior concorrência entre escolas é uma das medidas po- sitivas deste Governo).
Estamos perante uma refor- ma que demora pelos menos uma geração. Estamos assim mais do que 25 anos atrasa- dos, pelo que temos de come- çar quanto antes. O objectivo é monumental mas acessível: mudar a atitude perante o es- forço do estudo, filho a filho.

Professor da Universidade de Nova Iorque e da AESE
O autor escreve de acordo- com a antiga ortografia


 Expresso de 28/01/2012

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