terça-feira, 14 de maio de 2013


*Paulo Portas é um artista*.
Como todos os bons artistas, não tem problemas em desempenhar vários papéis. Já foi *rebelde*, já foi *estadista*, já foi
amigo dos *lavradores*, dos "*espoliados do Ultramar*", dos *ex-combatentes*, dos *reformados*, das *empresas*, dos *feirantes*, dos *trabalhadores*. Já foi *liberal* e *democrata-cristão*. Já foi *radical* e desancou nos imigrantes e no RSI. Já foi *moderado* e cheio de preocupações sociais. Servem-lhe todos os bonés que a cada momento lhe convenham. *O seu talento é inversamente proporcional à firmeza das suas convicções. *

*Paulo Portas tem muitas vidas*. E como nunca morre, vai cada vez mais longe no risco. Disse que deixaria de falar a um amigo se este fosse para o poder. Nenhum amigo sobreviveu à sua sede de poder. Já teve, quando foi candidato à Câmara Municipal de Lisboa, um cartaz em que jurava: "*Eu fico*!" Foi eleito vereador, não ficou e ninguém lhe pediu contas. Foi-se embora da liderança do CDS porque um "partido trotsquista" estava demasiado próximo. Fez a vida negra a quem o substituiu e, à primeira oportunidade, voltou, como se nada fosse. Deixou cair todos os que lhe pudessem fazer sombra. Fez a sua corte, sem nunca deixar que alguém pudesse ser visto como candidato ao seu lugar. Prometeu mundos e fundos a todos os seus eleitores. Nunca cumpriu uma promessa.

Agora *Paulo Portas faz o papel da consciência social deste governo*. Podia ser outro qualquer, mas este é o que agora lhe convém. Como sempre, comentadores e jornalistas fingem que não sabem quem é Portas. Ele dá bons espetáculos e os *media* não querem estragar bons momentos televisivos, bons diretos, bons dramas cuidadosamente encenados.

Soubemos, no entanto, pelos jornais, que *a sua brilhante homilia de domingo foi combinada com Passos Coelho*. E ontem ela chegou ao fim: *a Contribuição Extraordinária de Sustentabilidade, que representa uma pequeníssima parte do pacote de austeridade, caiu*. Gaspar já tinha deixado uma margem razoável para ela cair. Porque ela apenas foi criada para isso mesmo: *para que Portas aceitasse tudo menos uma coisa que já se sabia que não era para avançar*. Para Portas fingir que fazia voz grossa e Gaspar e Passos fingirem que o respeitavam!!!. E assim, aceitando tudo, Portas
consegue passar a ideia de que a sua presença neste governo muda alguma coisa. E o governo repete a rábula do costume: *avança com o impensável para depois recuar para o inaceitável*.

Durante o fim de semana, o exército de comentadores-ex-líderes do PSD, alinhados com os ministros que usam Portas e as fugas para a imprensa para não ficarem mal na fotografia, ajudaram nesta encenação: que Portas está mais forte, que Gaspar já cede às suas exigências, que tudo está diferente. *Está tudo na mesma. Até os malabarismos do CDS não mudam*. Só há um problema: o espetáculo pode ser bom, mas não sei se vale o suficiente para estar em cartaz tanto tempo, sem um momento de improvisação, sem uma surpresa, sem qualquer espaço para a espontaneidade. *Sempre o mesmo enredo, sempre a mesma cantiga. *

E assim, Paulo Portas vai continuar no governo, onde jamais teve a intenção de sair. Está num ministério de fácil gestão. Para além disso, com as viagens que tem feito durante dias a fio é só vantagens: fica longe dos problemas da governação e ainda passeia um pouco por todo o mundo, à conta do erário público. *

Com estadia em bons hotéis e refeições em bons restaurantes e outras mordomias, ao fim do mês, para além do ordenado, recebe um balúrdio em “ajudas de custo”, pagas indirectamente pelo contribuinte português, ao qual é exigida “austeridade”. *

*Em resumo: uma autêntica vergonha*

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